05 abril, 2007

Maldita parte de mim

Maldito sejas tu meu viver que me desbastas e me moldas, que me endoideces e me maquinas. Ridículo hábito que me afoga e me endoidece, que me cansa e enfurece, maldito eu, malvado o costume de esperar, maldito hábito de me acostumar, de me deixar estar por cá, deste lado.
Achar-me, encontrar-me, ser eu, ou talvez outro, ter duas formas, uma de cada vez, escolher, metamorfosear-me quando me conviesse. Prazer improvável, fruto proibido.
Que fazer? Mudar? Lutar? Para quê? Contra quem? Contra mim? Contra o mundo? O mundo é grande demais para que eu o consiga vencer. Esperar-me-ia a derrota, o poço, o fundo do mundo.
Contra mim? Não, não é possível, numa batalha deve existir um vencedor e um vencido. Não tenho dois eus, queria ter, mesmo que tivesse não saberia escolher que parte de mim sairia derrotada.
Tem então que ser contra o mundo? Não sei, talvez, sim, luto, perco, derrota certa e pesada passada no meu triste passado, amargurado, esquecido, lembrado, carregado na mente e no corpo marcado.
Agarra-me, puxa-me, ergue-me, do fosso, da fossa, do nojo. Agita-me, grita-me, acorda-me deste sono sonâmbulo, desta apatia amarga. Lança-me, empurra-me, guia-me. Para onde? Não perguntes, não sei sequer onde estou, leva-me apenas, a ti me confio, pega-me pela mão, arrasta-me pelo chão e depois deixa-me lá.
Onde? Não sei, ficarei bem se estiver do outro lado.

2 comentários:

gandratruck disse...

Boa Pascoa pa ti...:)

Maria Arvore disse...

Se malvado é o costume de esperar porque não agir já?... Porque não abrandar já essa insatisfação pegando numa das partes de ti, que todos temos muitas e fazer qualquer coisa com ela?... É que há sempre a hipótese de trocar por outra parte de nós e voltar a experimentar. E ficamos sempre em jogo. :))

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